José Medeiros: A luz brasileira
Na definição de Glauber Rocha, José Araújo de Medeiros (1921 – 1990) foi o único fotojornalista do século XX que “sabia fazer uma luz brasileira”. Em sua obra, houve espaço para as personalidades famosas e os marginalizados, para boemia da elite e as festas populares, para a situação dos negros, dos indígenas, dos enfermos, das ruas do país.
Nascido em Teresina (PI), Medeiros começou cedo a se dedicar ao ofício em que se profissionalizou. Seu pai era um fotógrafo amador e aos 12 anos lhe ensinou as primeiras técnicas de revelação em laboratório. Ao mudar-se para o Rio de Janeiro em 1939, com 25 anos de idade, foi convidado por Jean Manzon a integrar a equipe de fotojornalistas da revista O Cruzeiro, um dos principais e mais populares veículos da época.
Durante seus 15 anos na redação d’O Cruzeiro, fez história – tanto por ter construído seu nome e seu celebrado portfólio quanto por ter ajudado a documentar diversos aspectos da realidade brasileira. Além de viajar por todo o país, assinou coberturas internacionais na Europa, Equador, Estados Unidos e África. Com um perfil “revolucionário”, nas palavras de quem com ele convivia, Mederios achava a câmera utilizada pela revista pouco ágil para suas pautas. Assim, escondido dos chefes, substituía a Rolleiflex de filme médio formato por uma Leica com filmes 35 mm, entregando as ampliações no formato quadrado da Rolleiflex.
Medeiros equilibrava o sotaque nordestino, o toque de brasilidade de seu trabalho, a um repertório rico em referências internacionais. Assinava publicações estrangeiras de fotografia, acompanhando as grandes publicações em fotorreportagem da época, como Life e Paris Match. Fruto de estudo e instinto, suas imagens possuíam a instantaneidade do fotojornalismo com a precisão de um enquadramento e composição rebuscados. E, por isso, marcaram as décadas de 1940 e 1950.
Ao lado de Flávio Damm, fundou a agência de fotografia Image em 1952. Em 1957, publicou o primeiro livro de fotografias sobre o Candomblé no Brasil. Também aventurou-se no cinema, destacando-se como diretor de fotografia de clássicos como Memórias do Cárcere, de Nelson Pereira dos Santos, Chuvas de Verão, de Cacá Diegues, e A Falecida, de Leon Hirzman. Lecionou na escola de cinema de Santo Antonio de los Baños, em Cuba, no fim dos anos 1980.
Em 2011, Medeiros foi homenageado na França com duas grandes exposições que traçam um panorama de sua trajetória. José Medeiros – chroniques brésiliennes, sediada na Maison de l’Amerique Latine, em Paris, reuniu 160 de suas fotografias. A mostra Candomblé, também na capital francesa, apresentou seu ensaio homônimo na Maison Européenne de la Photographie. Imagens presentes em ambas foram reunidas no livro Chroniques brésiliennes, publicado pela editora francesa Hazan em parceria com o Instituto Moreira Salles (IMS), que guarda todo o acervo do fotógrafo.
10/09/2013
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