Jimmy Nelson: Etnofotografia antes que seja tarde
Em português, não há um eufemismo para a palavra “morte” tão eficiente quanto no inglês, “pass away” – algo como ir embora para sempre, deixar o mundo. Ainda que atenuado pelo termo em questão, o projeto Before They Pass Away (algo como “antes que eles se vão”), é literal em seu objetivo: eternizar em imagens tribos do mundo inteiro que, ameaçadas pelo progresso padronizador do homem ocidental, estão condenadas a desaparecerem. Com seus últimos membros, morreriam, também, suas histórias, suas culturas, seus dialetos, seus costumes. Para fazer um registro a altura desses grupos fadados à extinção, o fotógrafo Jimmy Nelson orquestrou cuidadosamente seus retratos, sempre captando aspectos da natureza que os cerca e de suas tradições.
Britânico nascido em Stevenoaks, Jimmy Nelson carregou sua câmera de grande formato durante três anos por 44 países, do Deserto da Namíbia às quase inacessíveis ilhas da Oceania. Fotógrafo desde 1987, tornou-se conhecido quando, após passar 10 anos em um internato jesuíta ao norte da Inglaterra, decidiu cruzar o Tibete a pé. A viagem durou um ano e seus registros dela fizeram um enorme sucesso. Depois disso, cobriu histórias na Rússia e no Afeganistão e conflitos em curso como as tensões entre a Índia e o Paquistão e o início da guerra na ex-Iugoslávia.
No projeto, a força dos retratos dos guardiões dessas tradições contrasta com a ameaçadora e implícita fragilidade de culturas que se mantém por séculos. É possível sentir a importância do trabalho, por exemplo, na imagem da tribo neozelandesa Maori, cujas origens podem ser rastreadas até o século 13, com a mítica pátria Hawaiki na Polinésia Oriental. Mesmo após a chegada dos colonizadores europeus no século 18, a tribo sobreviveu, isolada, estabelecendo uma sociedade distinta, com arte, linguagem e mitologia características. Um de seus provérbios angustia o espectador diante de seu possível fim: “minha língua é meu despertar, a minha língua é a janela para a minha alma”.
O fotógrafo conta que para apenas uma foto chegava a passar três horas, entre planejamento e execução. Como manda a metodologia antropológica, que renega o etnocentrismo e vê o novo sem julgá-lo, o fotógrafo buscava incorporar os costumes e ser aceito pelos grupos, tornando-se amigo das tribos antes de sacar a câmera. Muitas vezes, em lugares onde os nativos andavam nus, até se desfazia das roupas.
Conheça mais sobre o trabalho do fotógrafo: https://www.jimmynelson.com/
17/09/2019
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