Elena Chernyshova: Dias de noite e noites de dia
Mais de 250 dias por ano com ruas cobertas pela neve. Temperaturas que chegam a -50°C no inverno. Para completar, entre dezembro e meados de janeiro, a noite polar: período no qual o sol não cruza a linha do horizonte. Com uma população de aproximadamente 175 mil habitantes, Norilsk está situada na Sibéria, cerca de 240 quilômetros ao norte do Círculo Polar Ártico. O cotidiano dessa cidade fabril – uma das dez mais poluídas do mundo – é apresentado pela fotógrafa russa Elena Chernyshova na série Days of Night – Nights of Day (Dias de noite – noites de dia).
“Por dez anos, minha mãe viveu em Chukotka (no extremo nordeste da Rússia), em uma pequena cidade ao norte do Círculo Polar. Quando criança, eu era fascinada pelas suas histórias a respeito da noite e do dia polares, das luzes do norte, das temperaturas que chegavam aos 60 graus negativos, da neve cintilante e da comida seca ou em pó. Essas condições soavam totalmente inusitadas, pareciam ter origem em um conto de fadas”, conta Elena em entrevista a National Geographic. “Anos atrás conheci uma garota de Norilsk. Suas histórias despertaram novamente minha curiosidade. Dali em diante já não sabia dizer se queria contar uma história sobre a adaptação das pessoas ao ambiente hostil do norte, ou sobre a própria Norilsk. Elas eram inseparáveis”, explica a fotógrafa.
Fundada em 1935, Norilsk está situada em uma região de solo rico em minérios, tais como níquel, cobalto, platina e paládio. A cidade tem um dos maiores complexos de mineração e metalurgia do mundo. Foi um gulag soviético até 1956 – durante esse período, estima-se que cerca de 17 mil pessoas tenham morrido nas minas e na construção da cidade, enfrentando frio intenso, fome e trabalhos forçados. Ainda hoje os trabalhadores sofrem com a poluição – são observados elevados índices de câncer, doenças pulmonares, desordens sanguíneas e de pele, além de inúmeros casos de depressão.
A quantidade de dióxido de enxofre é tão alta que exterminou a vegetação em um raio de aproximadamente 30 quilômetros. Numa tentativa de compensar as condições insalubres, com 60% da população trabalhando na indústria, há 90 feriados oficiais por ano. Além disso, é oferecida a aposentadoria aos 45 anos de idade.
“Queria mostrar as particularidades dessa cidade: isolamento, condições climáticas extremas, a noite polar, sua origem, a arquitetura, suas dimensões imensas e o cotidiano dos seus habitantes. Também procurei mostrar a catástrofe ambiental e a domesticação desse ambiente”, diz Elena, que viveu oito meses em Norilsk, divididos em três estadas da fotógrafa, entre 2012 e 2013.
Vencedora do terceiro prêmio da categoria “Daily Life” do World Press Photo 2014, a série mostra também os momentos de ócio dos habitantes de Norilsk. Piscinas abertas no gelo são frequentadas pela população. Depois dos banhos, pelo costume local, as pessoas vão se esquentar em saunas. No curto período de calor – que pode chegar à casa dos 30 graus – também é comum se deitar ao sol.
Nascida em Moscou, Elena Chernyshova vive na França. Iniciou seu interesse por fotografia no período em que estudou e trabalhou com arquitetura. Depois de dois anos atuando como arquiteta, deixou o trabalho e viajou de bicicleta de Toulouse (França) a Vladivostok (Rússia) – uma viagem de ida e volta, que totalizou 30 mil quilômetros e 26 países percorridos, ao longo de 1.004 dias, e que ajudou Elena a decidir se tornar fotógrafa. Seus trabalhos são publicados em importantes periódicos internacionais, como National Geographic e Le Monde.
17/08/2021
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