Steve McCurry: Retratos
“Minha intenção é obter imagens dotadas de sentido – e, com isso, dar sentido à minha própria vida”
Steve McCurry
Há mais de trinta anos, Steve McCurry é uma das mais emblemáticas vozes da fotografia contemporânea. Membro pleno da Magnum desde 1986, é celebrado por traduzir com maestria a cultura de diversos povos em imagens que captam a alma e os hábitos de seus personagens. Com centenas de reportagens especiais, incontáveis exposições ao redor do mundo e uma dúzia de livros publicados, tem em sua fotografia mais famosa um perfeito exemplo da forte assinatura que construiu em sua obra. É dele a imagem da Menina Afegã, que fez história ao ser tornar a mais icônica capa da revista National Geographic, em 1984. Ao trabalhar em diversas áreas em conflito, como Beirute, Camboja, Filipinas, Golfo, ex-Iugoslávia, Afeganistão e Tibete, concentrou-se nas consequências humanas da guerra. Não em seu impacto na paisagem, mas em seu reflexo nos rostos. São alguns desses retratos, todos marcados por um impressionante uso de cores, que ilustram este post.
Nascido em um subúrbio da Filadélfia, nos Estados Unidos, McCurry estudou cinema na Pennsylvania State University antes de começar a trabalhar para um jornal local. Ao completar 27 anos, largou o emprego, sacou todo o dinheiro de sua poupança e embarcou na primeira de muitas viagens que faria à Índia, levando consigo pouco mais de uma mala de roupas e outra de filmes fotográficos. O plano inicial era passar 12 semanas viajando, mas o fotojornalista acabou retornando apenas dois anos depois, com 200 rolos de filme e completamente fascinado pelos costumes, a religião e a cultura do país. Desde então, impressionado com o contraste entre os modos de vida arcaicos e modernos e com a extrema desigualdade social, voltou ao subcontinente indiano nada menos de 84 vezes.
Sua carreira deslanchou quando, em 1979, vestindo roupas nativas com rolos de filmes costurados em seu interior, cruzou a fronteira do Paquistão para o Afeganistão pouco antes da invasão soviética. As imagens, publicadas em todo o mundo, foram as primeiras do conflito: “Fiquei surpreso ao ver o impacto que causaram. De repente, todo mundo passou a se interessar pelo local. De lá segui para a Tailândia para cobrir os cambojanos que fugiam do Khmer Vermelho”, relembra. Por essa cobertura, ganhou a Robert Capa Gold Medal. Entre as várias distinções que exibe no currículo também constam quatro primeiros prêmios no World Press Photo, um marco sem precedentes.
Para definir seu trabalho, a jornalista Ana Rita Martins se utilizou das análises da linguagem fotográfica feitas por Roland Barthes (1915 – 1980), mais precisamente dos dois elementos fundamentais da composição. O primeiro, studium, representa o conjunto dos objetos enquadrados pela lente, reconhecidos pelo espectador a partir de sua cultura e vivência. Assim, se o público se identifica, é porque os componentes do studium conversaram com ele. Punctum, o segundo elemento, consiste naquilo que prende a atenção de quem vê, salta da foto, diferencia a imagem. Para ela, as fotografias de McCurry são um exemplo magistral da combinação desses dois elementos: provocam ao mesmo tempo magnetismo e identificação.
McCurry enfatiza que nunca decidiu ser um fotógrafo de guerra, mas tem enorme interesse no modo como os conflitos afetam as pessoas. “Não importa o lugar, nossa reação é a mesma: sempre somos capazes de nos recuperar”, define. Seu trabalho abrange esses conflitos, costumes em extinção, antigas tradições e culturas contemporâneas sempre conservando o elemento humano que fez de sua célebre imagem da menina afegã um registro tão poderoso. Em suas palavras, as pessoas que retrata “pertencem àquela parte do mundo que não participa no banquete dos grandes, que vivem do suor do duro trabalho de todos os dias, que têm de contar com a imprevisibilidade da natureza e com a insensibilidade daqueles que detêm riqueza e poder”.
De acordo com ele, a captação dessas imagens é sempre imediata e espontânea, seu método dispensa planejamento e preparação. “Acabo quase sempre fotografando gente. Se topo com alguém que me atrai na rua, sempre pergunto se posso fazer seu retrato”, conta. Sobre o mais famoso, garante que não há como prever uma foto assim. “Às vezes a gente trabalha um mês inteiro e não consegue nada. Mesmo depois de tanto tempo de profissão, ainda não sei como captar uma imagem que fique gravada na memória coletiva. Tudo o que faço é seguir minha intuição”.
Conheça mais sobre o trabalho do fotógrafo: https://www.stevemccurry.com/
07/01/2013
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