Marlos Bakker: Do not disturb
Resultado de mais de 100 madrugadas em 33 residências diferentes, a série “do not disturb“ de Marlos Bakker retrata o que acontece nas noites de sono de mais de 60 pessoas. A motivação para o trabalho tem origem no interesse do fotógrafo pela invisibilidade. “Quando digo invisível estou me referindo ao que nossos olhos não podem captar por questões físicas: o que se dá muito rápido ou muito devagar, ou o que se dá na escuridão, por exemplo. Ou, indo além, invisível simplesmente porque seria inapropriado olhar por muito tempo, uma invasão de privacidade”, explica Marlos em seu site.
“Em poucos dias, várias situações que eu não imaginara se apresentaram: brigas de casais, filhos vindo dormir com os pais e acendendo as luzes do quarto, gente que dizia que ia dormir em casa mas mudando de ideia durante a madrugada, gente preocupada com o que deveria ter sido uma noite calma de foto ter surpreendentemente se transformado numa noite de sexo, etc…”
Marlos Bakker
Afora as surpresas – que incluem um cachorro que ia dormir com a dona sem que ela se desse conta –, Marlos percebeu o quanto a obtenção das imagens interferia no sono dos seus fotografados. “Muitas pessoas chegaram a sonhar com a câmera, a incluí-la no enredo dos seus sonhos de inúmeras maneiras diferentes (algumas vezes até eu apareci nos sonhos!)”, recorda.
O desenvolvimento do trabalho demandou testes e pesquisas até que se chegasse ao resultado esperado e tecnicamente viável. De início, Marlos pensou em utilizar equipamento digital. Desencorajado pela fabricante de sua câmera, devido ao longo tempo de exposição ao qual inicialmente submeteria o sensor – em torno de seis horas –, experimentou obter as imagens utilizando filme.
Imprevistos e esquecimentos, no entanto, fizeram o fotógrafo retornar ao digital, programando capturas com exposição de, no máximo, trinta minutos cada, conforme nova orientação do fabricante. As imagens dos bastidores revelam a infraestrutura necessária para realizar a série – e para trazer à tona aquilo que não vemos enquanto dormimos.
Carioca, Marlos Bakker descobriu a fotografia no curso de Comunicação Visual da UFRJ. Mais tarde realizou cursos de extensão de fotografia, pintura, desenho e história da arte na Scuola Lorenzo de’ Medici, em Florença, e na UCLA, em Los Angeles. Seus projetos, ou “safáris fotográficos”, procuram invadir as ilhas de privacidade que ainda nos restam como uma maneira de discutir a sociedade contemporânea.
25/05/2021
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