Clara Vannucci: O valor de um retrato no cárcere
São muitos os possíveis assuntos a serem escolhidos por um fotógrafo. Em especial um jovem estreante, com um infinito de possibilidades diante das lentes. A italiana Clara Vannucci atua profissionalmente na fotografia publicitária, mas já ganhou um estágio na Magnum pelo assunto que escolheu abordar como projeto pessoal – e pela forma que o fez. Seu interesse é o cárcere, ou melhor, a vida dos detentos nos lugares em que o Estado mantém seus criminosos separados da sociedade. Em Crime and Redemption, ela retratou a importância do teatro para a regeneração de prisioneiros. Em Riker Island, Battered Women Section, tema deste post, registrou a cotidiano na ala feminina do maior presídio dos Estados Unidos.
Nascida em Florença, na Itália, em 1985, Clara começou a fotografar prisões em 2007, quando estudava Design Gráfico na University of Architecture of Florence. Em 2009, conheceu a fotojornalista Donna Ferrato, que se apaixonou por seu projeto em cadeias da Toscana e a deu um ano de estágio na Magnum, além da chance de continuar seu projeto em Nova Iorque.
Clara teve acesso a Rikers Island através de um programa chamado Alternatives to Incarceration (ATI), “alternativas ao encarceramento”, uma organização que visa acabar com a violência doméstica. De acordo com as estatísticas, mais de 90% das detentas do sexo feminino sofreram abusos físicos ou sexuais em suas vidas. Há 25 anos, a ATI atende as vítimas desse tipo de trauma que cometeram crimes relacionados a ele, atuando em presídios e oferecendo apoio.
Conhecido apenas como Rikers, o complexo prisional foi construído entre Bronx e Queens, e possui 18 diferentes prédios com centenas de detentos. Aqueles considerados mais perigosos são encarcerados em um barco localizado no rio que separa os dois distritos. Vannucci visitou a ala das mulheres pela primeira vez em 2009 e rapidamente aprendeu que as prisioneiras não podem ter espelhos, considerados armas. Muitas delas não veem o próprio rosto há anos e, de fato, a maioria nem se reconheceu quando Clara mostrou suas fotos. Foi nesse momento que a fotógrafa deu um novo significado a sua experiência: “o aspecto mais bonito desse projeto foi, para mim, oferecer a elas um espelho”. Pelo fato das prisioneiras também não poderem ter fotos de si mesmas, sob a suspeita de que criem documentos falsos de identidade, Clara deixou as imagens com suas famílias. A cada entrega, lembrava do quão precioso um retrato pode ser.
O trabalho rendeu à fotógrafa um ano de residência na Fabrica, o grupo de pesquisa da Benetton, em Treviso. Ela também é representada pela agência DB Daria Bonera Agency.
Conheça mais sobre o trabalho da fotógrafa: http://claravannucci.com/
15/10/2013
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